quinta-feira, 19 de março de 2009

Entrevista ao Chefe de Cozinha da Selecção Nacional de Futebol Hélio Loureiro


Grupo: Todos sabemos que é o cozinheiro da Selecção Nacional de Futebol. Há quanto tempo desempenha esta função?

Hélio Loureiro: Desde 1996 que estou com a selecção portuguesa de futebol, o primeiro jogo a que fui foi na Arménia…já lá vão 14 anos

G: Como está a ser esta experiência?

HL: É muito interessante pois para além de estar a fazer um serviço em prol da causa e do valor português é muito interessante pelo conhecimento dos países e de outras culturas que me ajudam a crescer profissionalmente.

G: Que elementos integram a sua equipa de trabalho? Trabalha em cooperação com algum nutricionista?

HL: Desde o princípio que quando aceitei trabalhar com a selecção pedi que tivesse comigo o chefe Luís Lavrador e o Fernando Eleno, que me acompanham sempre nas deslocações para o estrangeiro. Os médicos da selecção é que tem feito o trabalho dos nutricionistas …

G: Como se processa a escolha das ementas?

HL: È sempre feita seguindo os conselhos médicos, que nos dão uma noção das necessidades de cada atleta. A partir daí e com base na cultura e tradição da culinária portuguesa transformamos a informação médica de hidratos de carbono etc. em alimentos e métodos de confecção.

G: A dieta dos jogadores varia consoante as épocas de treino e dias de jogos? Se sim, de que forma?

HL: Sim, pois como podemos verificar em alturas de maior esforço físico temos que fazer algumas variações que são importantes para o melhor desempenho de cada atleta. Por exemplo, aumento de açúcares rápidos ou diminuição de gorduras.

G: O facto de viajarem frequentemente para fora do País implica alterações ao plano alimentar?

HL: Tentamos que as saídas para fora sejam minimizadas, pois queremos que os atletas não tenham grandes alterações nos hábitos alimentares nem nos ingredientes utilizados.

G: Como são geridas as refeições, tendo em conta os horários dos jogos?

HL: Sempre com três horas de antecedência do jogo é lhes dada a ultima. No dia-a-dia, o pequeno-almoço é obrigatório e depois é a divisão por almoço, lanche, jantar e ceia nos quartos. Sempre depois do jogo e nas duas horas seguintes, é servida uma refeição de batido de iogurte, uvas passas, banana e um prato de massa.

G: Todos os jogadores seguem o mesmo plano alimentar? Que factores influenciam as diferenças a esse nível?

HL: Embora a refeição seja feita de igual forma para toda a esquipa, a verdade é que muitas vezes alguns atletas seguem diferentes tipos de alimentação, devido ao seu estado de saúde e rendimento, esforço físico e mesmo ao seu metabolismo

G: Quais devem ser os alimentos privilegiados para um atleta de alta competição? E, por outro lado, quais os que devem ser evitados?

HL: Diria que todos os alimentos são válidos, mas as quantidades têm que ser controladas, como por exemplo o álcool: um copo e vinho é importante numa alimentação saudável mas mais seria ilógico; os açúcares também são importantes, mas sempre nas doses certas. No fundo, “nem sempre nem nunca” é o lema de uma alimentação saudável que, no caso dos atletas, é importante que tenha sempre massas, legumes, frutas, proteínas, sais minerais, etc.

G: Qual seria a dieta ideal para um desportista, tendo em conta as proporções dos vários grupos de alimentos?

HL: Isso é uma pergunta para um nutricionista! Eu tenho uma visão da culinária, no entanto condiciono-me às regras da alimentação desportiva. Mas nunca esqueço que o mais importante para um chefe é seguir os ditames da alimentação aliados ao prazer da mesa.
A mesa não é só um local de alimentação do corpo, mas também de exaltação da alma, de educação, de prazer e de partilha. Não foi por acaso que o Mestre fez a sua pregação à mesa e à mesa se despediu de nós, exaltando á partilha e ao convívio quotidiano e comunhão entre todos.

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